domingo, 11 de abril de 2010

Perguntas Frequentes

A Libras é universal?
Não. A libras não é universal. Existe o Gestuno, que é considerada uma língua internacional. Uma forma simples de representação das línguas de sinais, porém não muito utilizada ou difundida. Ver: A Universalidade da Língua de Sinais.

A Libras é uma Linguagem ou uma Língua?
Libras é uma língua. A definição de linguagem como meio de expressão não contempla o universo da Libras, que permeia as complexidades e características de Língua assim como as línguas orais. A Libras apresenta sintaxe, semântica, fonologia e demais aspectos comuns às demais línguas. Ver: Conceitos Introdutórios.

O Alfabeto Manual é universal?
Não. O Alfabeto Manual não é universal. Assim como a Língua, o alfabeto é também próprio de cada país ou comunidade que se apropria dele como ferramenta de comunicação. Um empréstimo linguístico da L2. Ver: Alfabeto Manual.

Por quê os surdos geralmente apresentam dificuldades de fala?
É comum vermos surdos apresentarem dificuldades de fala. Não que isto implique em alguma limitação patológica ou anatômica que o justifique, porém, os surdos (maioria) têm a Libras como L1 e o Português como L2. Ou seja, o português como uma língua estrangeira.

Como obter a certificação de tradutor/intérprete?
Para obter a certificação de tradutor/intérprete conferida pelo MEC, há somente um caminho a seguir: primeiro há a necessidade de contato com a comunidade surda suficiente para propiciar fluência na Libras, e/ou cursos preparatórios para esta prova, que é aplicada em Libras através de vídeos geralmente com textos sinalizados por surdos. Depois disto, deve-se ficar atento aos calendários de exames de proficiência aplicados pela COPERV - http://www.coperve.ufsc.br/prolibras/, através do PROLIBRAS – http://www.prolibras.ufsc.br sob a gestão da UFSC. Estes exames geralmente são anuais, e são realizados nos polos das Universidades federais por todo o país.

Existem cursos de Libras com certificação do MEC?
São raros, mas existem. A questão é simples: a maioria dos cursos ministrados por entidades particulares, ainda que com instrutores credenciados pelo MEC, não tem o reconhecimento do MEC. Existem, sim, cursos de pós-graduação ou extensão ofertados por universidades ou faculdades credenciadas pelo MEC, e, portanto, com o reconhecimento do MEC, porém, ainda, sem uma padronização de conteúdo programático prático/teórico, muito variado pelas instituições de ensino.

Ouvintes podem ser instrutores de Libras ou é uma atividade exclusiva dos surdos?
Por muitos anos permaneceu a grande discussão sobre este tema tido como polêmico. Muitos surdos (maioria) viam a atividade de ensino da Libras como uma oportunidade de trabalho, geralmente escasso pelas péssimas políticas de inclusão nas décadas passadas, e não admitiam que ouvintes, independentemente da capacitação para o ensino, ensinassem Libras. A questão era tida como ética e fomentava grandes movimentos que às vezes chegavam a extremos. A partir de 2006, com o exame de certificação aplicado pelo MEC, a discussão teve um fim, pois de acordo com o MEC, independentemente da situação de surdo ou ouvinte, alguém que tenha conquistado a certificação de proficiência para o ensino da Libras está plenamente apto a exercer esta atividade.

Todos os surdos são aptos a ensinar Libras?
Não. Nem todos os surdos são aptos a ensinar Libras. O fato de ser surdo não capacita nem habilita uma pessoa ao ensino da Libras. Isto só é conquistado através do exame de proficiência do MEC que atestará a capacidade para o exercício da atividade de Instrutor.

A Libras é uma língua padronizada em todo o país, ou existe regionalismo?
Não a Libras não é padronizada. Assim como as línguas orais, a Libras tem suas variações regionais e sociais, de acordo com a cultura e a época que se fala. Boa parte da Língua é reconhecida oficialmente através da publicação do dicionário oficial da Língua de Sinais. Porém, o fato de não constar no dicionário não ratifica a tese de que não seja Libras oficial. Somente reforça a ideia de que há um forte regionalismo presente em nossa cultura. Ver: Variações Linguísticas (dialetos).

As línguas gestuais-visuais são inferiores às línguas orais?
Não. Algumas pessoas e até mesmo estudiosos de línguas orais tem afirmado que as línguas de sinais são inferiores às línguas orais. Isto se deve essencialmente à ignorância do assunto. O que temos visto nas últimas duas décadas é que as línguas de sinais demoraram muito tempo para se afirmarem como línguas, por terem sido vítimas de preconceito e até mesmo marginalizadas pela sociedade predominantemente ouvintista. A partir da década de 1990 após estudos pioneiros da linguista Lucinda Ferreira Britto e mais tarde por outros tantos nomes de expressão como, Lodenir Karnopp, Tania Felipe, Ronice Quadros, Gladis Perlin, Karin Strobel, e muitos outros tantos nomes do mundo linguístico, que esta falsa impressão foi desmascarada. Sabemos que os estudos da Libras ainda não são suficientes, principalmente pela complexidade da própria Libras, que permeia campos muito densos, como por exemplo, os Sistemas de Classificação, ainda pouco perscrutados pelos estudiosos o que nos proporcionará amplo material de estudo ainda por muitas décadas. Talvez a ausência de uma Gramática Oficial induza os estudiosos mais superficiais a acreditarem nesta falsa afirmação. Além do que, não seria justo comparar línguas de espectros tão distintos como estes: Português oral/escrito / linear já a Libras é visual / gestual / espacial /  multidimensional. Ver: Um paralelo entre a Libras e o Português.

Ouvintes podem apresentar uma Identidade Surda?
Sim. Ouvintes podem apresentar uma identidade surda, quando expostos a ela precocemente, geralmente como acontece nas famílias de pais surdos com filhos ouvintes que tem como língua materna a Libras L1 e posteriormente aprendem o Português L2. Ver: Identidade Surda.

Existem gírias ou expressões idiomáticas na Libras?
Sim. Da mesma forma como acontece nas línguas orais, na Libras os meios de influência destes fenômenos linguísticos são a cultura e a dinâmica da própria língua. Existem dezenas, talvez centenas de expressões idiomáticas e gírias na Libras. Isto também varia de acordo com a região e a época. Cada geração tem imprimido sua identidade nas formas de comunicação, que vem mudando cada vez em espaços mais curtos de tempo. As novas gerações jovens tem a necessidade de criar seu próprio estilo e isto se aplica também à Libras. O que não deveria ocorrer, é a perda ou o desuso de sinais ou expressões mais ricas por expressões mais pobres, simplesmente por serem mais modernas, atuais. Assim, perde-se em qualidade e em conteúdo, o que é lamentável para qualquer cultura. Nas línguas orais isto é um pouco minimizado pelos registros escritos (livros) e visuais (vídeos, filmes, documentários) Porém, na Libras, por se tratar de uma língua visual, e termos pouquíssimos registros dela ao longo das décadas, o risco de perda é muito maior.

Como entender os critérios utilizados para dar sinal às pessoas e às coisas?
São muitos os critérios utilizados pelos surdos para dar sinal às pessoas e às coisas. Quanto às pessoas, geralmente prevalece uma característica física ou fisionômica, seguida de características marcantes de trejeitos, atividades, gostos, etc. No caso das coisas, as características descritivas (forma, tamanho, textura) ou de funcionalidade e instrumentalidade são observadas criteriosamente para se chegar ao sinal (significante) que represente melhor aquela coisa (significado). É comum vermos sinais de pessoas e, às vezes também, de coisas, executados com a Configuração de Mão de representa a letra inicial da palavra em português. Isto não é regra. É, portanto, uma exceção justificada pela influência da língua escrita (português) sobre a língua gestual (Libras). Hoje, mais raramente se observa esta apropriação, devido ao amadurecimento da comunidade surda e da valorização da Libras com as políticas públicas e amparo da legislação legal.

Para todas as palavras da Língua Portuguesa encontramos um sinal correspondente na Libras?
Não. Cada língua tem sua raiz na sua própria cultura. Isto implica em uma comunicação baseada na vivência e comportamento desta comunidade que se utiliza da língua para expressar suas capacidades e manifestar suas experiências ao longo da vida. Isto não quer dizer que não possamos interpretar uma palavra do português que não tenha uma referência imediata na Libras. O que geralmente acontece é 1) o intérprete inexperiente soletra usando o alfabeto manual e simplesmente não comunica, pelo simples fato de a palavra soletrada ser desconhecida do surdo. 2) o intérprete mais experiente soletra e explica com dois, três, quatro ou quantos sinais achar necessários para comunicar a ideia ou o significado daquela palavra. Assim transporta conhecimento de uma cultura para outra e estimula a criação de novos sinais que comporão o vocabulário desta língua. Curiosamente o inverso também acontece. Na tradução da Libras para o português, muitos sinais que não tem correspondência no português precisam ser esmiuçados em diversas palavras para comunicar com o mesmo conteúdo, às vezes de um único sinal, geralmente rico em conteúdo e de difícil tradução com um simples e único vocábulo. Assim, ao longo dos tempos vamos construindo um referencial linguístico comum de ambas as culturas, o que propicia um mútuo enriquecimento. Vemos muitos exemplos de importação de expressões originalmente americanas para a nossa cultura, e ninguém acha anormal. Por quê? Culturalmente fomos nos acostumando ao fato de usar cada vez mais estrangeirismos, em vez de nos apropriarmos cada vez mais da nossa própria língua e cultura. A exemplo desta postura podemos citar a França.